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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Desabafo e Alívio!


Confesso que as últimas semanas tem sido complicadas pra mim. Comecei a trabalhar com Saviani tem pouco mais de dois meses, e me regozijava com tudo o que lia. Incorporei tudo o que ele dizia da possibilidade de uma pedagogia que desenvolvesse nos estudantes uma consciência diferenciada, crítica e transformadora... E realmente me encontrei (ingenuamente).


Mas... poucos dias depois de me encontrar em Saviani, recebi a indicação da leitura de Bourdieu e Passeron pela disciplina de Teoria Social 1. Admito que li a primeira página e parei.  Poucos parágrafos já me bastaram para ficar com uma enorme pulga atrás da orelha. Como aquele cara (que é um dos maiores autores da nossa área, portanto difícil de ser ignorado) vêm destruir toda a minha alegria, toda a minha esperança para a educação?
Dei alguns dias, depois respirei fundo e comecei a ler novamente, disposta a, se for preciso, destruir o que eu havia construído com a pedagogia de Saviani, e se preciso, construir novas concepções (frias e cinzas) com base na discussão de Bourdieu.

Ao longo da leitura realmente fui percebendo o quanto Bourdieu consegue fazer uma análise concreta do que é a nossa sociedade e o nosso sistema pedagógico. Ele já tinha previsto até que nós, futuros professores, acreditaríamos que faríamos a diferença no sistema de ensino, sem perceber que no fundo estaríamos reproduzindo todo o arbitrário cultural dominante.
Tudo o que ele disse naquele livro faz completo sentido, e é inevitável repensar todas as nossas concepções de vida, de sociedade, de indivíduos. Depois, para dar um empurrãozinho na minha desilusão, começamos a ler Foucault, que também fez uma leitura muito real do nosso sistema, de como a disciplina estava em todos os lados nos acomodando, nos conformando, sem que percebêssemos, e como o sistema educacional, nas suas didáticas, em seus livros, na arquitetura das escolas, utilizava destes artefatos para impor sutilmente uma ordem social.
Ao fim disso tudo eu já pensava em refazer minha pesquisa, mudar todo o tema, e começar do zero. Até que surgiu uma pontinho de esperança.

Por causa de um resumo a ser feito pela disciplina de Estágio 3, tive que ler novamente o livro sobre a Pedagogia Histórico-Crítica de Saviani. E nessa leitura, agora menos focada em encontrar partes que comprovassem minha pesquisa e mais ocupada em tentar salvar o que ainda restava dela, me atentei para partes que antes tinham passado batido.

Ao reler Saviani, tendo agora lido A Reprodução, tudo o que ele disse das teorias "crítico-reprodutivistas" ganhou novas faces. O que me incomodava realmente em Bourdieu e Foucault é exímia análise do concreto, do sistema tal qual é, e a inexistência de propostas, de saídas, de algo que possa mudar essa realidade. E Saviani admite tudo o que eles disseram, mas a sua grande diferença é não parar por aí.
Admitir que toda ação pedagógica é uma violência simbólica, etc., não muda que o sistema em si possui brechas que levariam à sua própria destruição, não impossibilita de admitir o caráter contraditório do problema educacional, de assumir a movimentação histórica que existe de para superação do sistema atual, que está implícita em suas entranhas. Ele nos diz que a educação deve ser considerada como determinada pela sociedade em ação recíproca, ou seja, significa que educação também interfere sobre a sociedade, 
podendo contribuir para a sua transformação.

Essa afirmação já nos abre novas portas para o entendimento da educação e para o reconhecimento de como fica o nosso papel neste processo. Mas essas duas leituras foram simplesmente essenciais para compreendermos o funcionamento do sistema educacional e, assim, conseguir enxergar o que podemos fazer e o que precisa ser feito se quisermos que a nossa atuação como professores não seja uma ação reprodutora.

Desculpem o desabafo e o tamanho do texto, mas eu estive curiosa para saber se, durante a leitura de Bourdieu e Foucault, fui só eu que estive a beira de uma "crise existencial". Espero que nosso professor também nos ajude a desfazer os nós que foram feitos com estas duas últimas leituras, nos indicando outras boas leituras como estas. Aos que possuem outras visões a respeito da pedagogia de Saviani, peço que comentem e levantem o debate, porquê meu pensamento, inevitávelmente, ainda está em contrução.


Larissa Messias

7 comentários:

  1. Larissa,

    Não li o Saviane, mas estou instigada a conversar.Não li o Saviane, mas acho que com Bourdieu e Foucault nem tudo está perdido, mesmo falando sobre reprodução, inculcação, disciplina, são autores que também falam sobre campos, sobre micropoderes. Consideram as mudanças, mas em um cenário de conflitos e imposições. A ideia de termos "sempre" um arbitrário cultural tem sempre que ser equivalente a termos relações hierarquicas de subalternização? A disciplinarização impõe maneiras de viver por descartar maneiras de viver de forma que para continuar a existir as pessoas/ grupos tem que agir, que lutar pela vida. Por existir elas resistem. Acredito que Bourdieu e Foucault, mesmo sem centralizar a resistência em suas obras, de uma maneira que esperamos encontrar, foram militantes de causas que envolviam suas teorias, militantes contra arbitrários culturais e a favor de arbitrários culturais. Eu, concordo com você que são autores interessantes e exatamente por ler neles; cuidado com os discursos sobre vamos salvar o mundo! Podemos salvar o mundo, mas temos que pensar bem sobre como. A educação pode ser um instrumento de empoderamento das pessoas, mas também serve para dominar, vigir e punir, e precisamos estar atentas aos dois lados para construir maneiras de agir e refletir sobre as ações possíveis.

    Elismênnia

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  2. Larissa,

    O que te inquietou com a leitura e o confronto desses autores, também atingiu a mim. Acredito que de modo diferente mas com peso também. Ocupou-me tempo e não me saia do pensamento.

    Esta observação da Elismênia é bem relevante e concordo com ela. Foi no sentido de gerar reflexões que postei o texto anteriormente: Esquentando as idéias.
    O meu intuito Larissa, é justamente promover um pouco do que aconteceu com você. No sentido de estarmos neste momento abertos a construção, mesmo que para isso passemos por desconstruções. O lamentável é quando não questionamos ou não aceitamos dialogar, conhecer as teorias e reconhecer o que nelas há de pertinente. Creio que a educação está fazendo efeito, quando ocorre o que está acontecendo com você.

    Dilma Maria

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  3. Larissa, (ainda que pareça bizarro) fico contente em saber que existem pessoas partilhando do mesmo tormento. As leituras de Bourdieu e Foucault representam um verdadeiro ritual de “autoflagelação”, para não dizer que têm o mesmo efeito de um “tapa bem dado na cara”. Por outro lado, retomando as palavras da Dilma, é justamente essa sensação de frustração, de perda ou até mesmo impotência que, aliadas a outros elementos nos fazem resistir. Todavia acreditei que a educação era capaz de redimir os males deste mundo e que eu, enquanto aluna, mulher (e mais uma porção de rótulos), deveria correr atrás das oportunidades e no intuito de alcançar “sucesso” (que se resumia em satisfação pessoal através do acumulo material). Quando ingressei no curso vi tudo mudar. Todas as minhas certezas e convicções se foram... fui parar no limbo (“alguma coisa ficou pra trás; antigamente eu sabia exatamente o que fazer”). Entrar em contato com as teorias de autores como Bourdieu, Foucault (e outros) assim penso, é doloroso, causa náusea e dor de cabeça, mas te faz vomitar... vomitar tudo aquilo que engolimos durante o tempo curto da nossa existência... nos faz vomitar todas aquelas opiniões formadas anteriormente: que nos fazia pensar que os possíveis sucesso ou fracasso, certezas e incertezas eram fruto apenas do nosso esforço; como se realmente tivéssemos as mesmas chances de alcançar determinado alvo; como se fossemos todos iguais, partilhando das mesmas condições existenciais; e por incrível que pareça, por uma fração de segundo nos fizeram acreditar que realmente somos o que queremos ser. Sabe Larissa, nos momentos de alucinação (leitura), de raiva (desnaturalização perene) é que eu me contorço e num segundo passo, formulo as estratégias de ação (resistência mais resistência). Um dia desses, estava eu, rabiscando neste mesmo blog, maldizendo a vida docente, para justamente hoje admitir que “as transformações” estão ocorrendo (somos cobaias dos processos de mudança). A nossa cabeça não pára um segundo e de uma forma ou outra o pensamento acaba interferindo na prática... [já estamos reproduzindo teoria crítica - “brincadeira” - ].

    (...)

    Enfim, nas palavras cantadas de Humberto Gessinger:

    "Um dia me disseram
    Quem eram os donos da situação
    Sem querer eles me deram
    As chaves que abrem essa prisão

    E tudo ficou tão claro
    O que era raro ficou comum
    Como um dia depois do outro
    Como um dia, um dia comum"

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  4. Larissa, também me senti aliviada com seu desabafo! Na verdade, lembrei muito de duas frases que a professora Lucinéia costuma falar: 1. "A educacão não muda tudo, mas muda muita coisa"; 2. "Para mudarmos/ transformarmos algo é preciso conhece-lo primeiro".
    Acredito que Bourdieu e Foucault nos apresenta a realidade/ a estrutura tal como ela é de fato, mas de uma forma um tanto talvez "agressiva" e, por isso, nos parecem pessimistas quanto a educacão. Saviani de certa forma também fala dessa realidade, mas de uma forma mais "sutil" apresentando também um "apesar disso".
    Além disso tudo que você expos no seu texto Larissa, ainda existe algo que me angustia: eu estou um pouco cansada de ficar só debatendo. Já conhecemos um tanto bom sobre educacão, seus problemas, os diferentes pontos de vista de autores que se voltam à educacão, demos várias opiniões, demos vários nós em nossas cabecas, etc, etc. E aí?? O que nós realmente temos feito pra "mudar" alguma coisa? Concordo com a Dilma quando ela diz que a educacão está fazendo efeito, quando o que está acontecendo com você, mas pra mim isso ainda é pouco, porque eu não consigo enxergar uma maneira de colocarmos nossas discussões em prática. Talvez muitos de meus colegas acreditem que essa posicão minha é extremista demais e que as coisas não são bem assim. Mas se olharmos não só pra questão da educacão e para o que estamos passando na licenciatura, veremos que muitas coisas que conhecemos e discutimos no decorrer do nosso curso não fazem muito além de nos deixar pouco ou muito confusos quanto às nossas opiniões e condutas.

    KÁRITA SEGATO

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  5. Um comentário do Rafael em sala me fez realmente atentar para essa posição de "Vamos salvar o mundo pela educação através da revolução pelo socialismo". Eu tenho muito pé atrás com essa visão e acho que deixei pouco explícito. Mas ao mesmo tempo em que é um posicionamento idealista, é também uma sugestão de atitudes que visam não transformar a sociedade e o mundo, etc e tal, mas sim tocar as pessoas do seu núcleo social, impulsionar novas consciências, transformar aos poucos através do pouco que pode ser feito como professor. Kárita, realmente sinto falta de ver na prática tudo isso que estou estudando. Mas acho que essa base toda serve justamente para nos preparar para o que viermos a encontrar. Ela é essencial, mas como você disse, não é tudo. Principalmente para nós professores.

    Larissa

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  6. Larissa, (ainda que pareça bizarro) fico contente em saber que existem pessoas partilhando do mesmo tormento. As leituras de Bourdieu e Foucault representam um verdadeiro ritual de “autoflagelação”, para não dizer que têm o mesmo efeito de um “tapa bem dado na cara”. Por outro lado, retomando as palavras da Dilma, é justamente essa sensação de frustração, de perda ou até mesmo impotência que, aliadas a outros elementos nos fazem resistir. Todavia acreditei que a educação era capaz de redimir os males deste mundo e que eu, enquanto aluna, mulher (e mais uma porção de rótulos), deveria correr atrás das oportunidades e no intuito de alcançar “sucesso” (que se resumia em satisfação pessoal através do acumulo material). Quando ingressei no curso vi tudo mudar. Todas as minhas certezas e convicções se foram... fui parar no limbo (“alguma coisa ficou pra trás; antigamente eu sabia exatamente o que fazer”). Entrar em contato com as teorias de autores como Bourdieu, Foucault (e outros) assim penso, é doloroso, causa náusea e dor de cabeça, mas te faz vomitar... vomitar tudo aquilo que engolimos durante o tempo curto da nossa existência... nos faz vomitar todas aquelas opiniões formadas anteriormente: que nos fazia pensar que os possíveis sucesso ou fracasso, certezas e incertezas eram fruto apenas do nosso esforço; como se realmente tivéssemos as mesmas chances de alcançar determinado alvo; como se fossemos todos iguais, partilhando das mesmas condições existenciais; e por incrível que pareça, por uma fração de segundo nos fizeram acreditar que realmente somos o que queremos ser. Sabe Larissa, nos momentos de alucinação (leitura), de raiva (desnaturalização perene) é que eu me contorço e num segundo passo, formulo as estratégias de ação (resistência mais resistência). Um dia desses, estava eu, rabiscando neste mesmo blog, maldizendo a vida docente, para justamente hoje admitir que “as transformações” estão ocorrendo (somos cobaias dos processos de mudança). A nossa cabeça não pára um segundo e de uma forma ou outra o pensamento acaba interferindo na prática... [já estamos reproduzindo teoria crítica - “brincadeira” - ].

    (...)

    Enfim, nas palavras cantadas de Humberto Gessinger:

    "Um dia me disseram
    Quem eram os donos da situação
    Sem querer eles me deram
    As chaves que abrem essa prisão

    E tudo ficou tão claro
    O que era raro ficou comum
    Como um dia depois do outro
    Como um dia, um dia comum"


    Michelle N. de Resende

    Postado por Michelle no blog SocioPhatias em 11 de maio de 2011 16:05

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  7. Michelle,

    Nossa fiquei encantada com seu comentário vc sabe que te admiro e te respeito pelo bom gosto, e acho que me encontro dessa forma com tudo nas mãos e sem poder fazer muita coisa com isso. ao mesmo tempo que sou a mudança estou em processo de mudança visando a mudança, que coisa mais complexa. Como diria a concepção lukacsiana, "a sociedade é um complexo composto de complexos". trata-se da análise dos processos historicamente concretos de formação dos indivíduos e de como, por meio desses processos vai se definindo, no interior da vida social, um campo da atividade educativa".

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