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quarta-feira, 23 de março de 2011

Tentar pensar a educação a partir de uma abordagem mais ampla desse conceito bem como via análise de contextos mais concretos e específicos como o de nossa realidade educacional brasileira (seja na escola formalizada, seja nos movimentos não-formais) me parece ser um ato de coragem. Coragem porque nos atenta para uma realidade tensa que encanta e frustra ao mesmo tempo. A enfrentaremos como professores em primeiro lugar (uma categoria marcada pelas conseqüências de nossa formação sócio-histórica ) . Seremos, se conseguirmos, antes de tudo trabalhadores de uma sociedade classista e de privilégios e, por isso, seremos marginalizados pelo poder público, pela sociedade, pelo mercado, pelos núcleos familiares.
 Isso me faz voltar com certo tom de idealismo ou esperança (ingênua que seja) aos pensadores que até aqui tive contato (que não foram muitos). Quando penso em Marx, com sua idéia de ser genérico,  é possível dizer que a educação não aliada aos valores da propriedade privada, que aliena o trabalho daquele que o produz,  traz um poder de resgate do caráter integral do homem.  A educação assim pensada devolveria a capacidade humana de uso de seus sentidos de forma total. Com isso, todo homem, toda mulher, saberia refletir sobre sua realidade e também produzir suas necessidades se livrando da escravidão do capital. Ela devolveria suas partes mutiladas pelos valores  mercantilizados. Também os libertários, Bakunin, Kropotkin , Gramsci, Paulo Freire, cada um de sua maneira traz uma idéia do que significaria viver a educação como libertação e formação de pensantes que agem...Mas também não há como deixar de lado os personagens do cotidiano, os formadores de opinião que estão na música, nos filmes, na televisão, no rádio. Educação pensada para todos (sem a prepotência de que a igualdade de acesso destrua as diferenças anteriormente fixadas a partir das diferenças de classes como diria Bourdieu) também é pensá-la junto ao povo, para o povo.
Ainda como professores, mas também como cientistas sociais estaremos diante de outro desafio, de desvelar as relações de poder, de tentarmos  “formar”(parece um termo petulante...) seres conscientes e com isso nos moldarmos enquanto educadores pra quem sabe construirmos uma realidade menos “patológica”.  Estamos nos formando como seres sociais que derivam da sociedade atual tão vaidosa com seus princípios de proteção individual. Vivemos angústias, somos mães, pais, filhos e filhas, irmãos, estudantes, trabalhadores, sei lá... Somos inclusive seres sociais, como suas diferentes histórias de vida.  Mas fazemos parte de um coletivo que pode sim ser transformador.
Não significa (a esperança) ignorar as diferenças que se solidificam nas relações sociais. Se reproduzem nas escolas, nos discursos políticos, acadêmicos, midiáticos. Acreditar na educação não significa colocá-la sobre um altar, mas compreendê-la como instrumento de formação humana e de intervenção social. Dái a responsabilidade do que se dispõe ao ofício do professor.
Maria Fernandes Gomide

Um comentário:

  1. ...oportunamente um desabafo: educa(DOR)a?! Não sei ao certo quão dolorosa pode ser a tarefa de ensinar, mas de fato sinto enorme angústia. Retomando seus dizeres Maria, "somos seres sociais", humanos constituídos de outros (humanos) que intencionalmente ou não, deixam frasquinhos com amostra de sua essência (e por aí desembocamos no processo de humanização). O ato de ensinar, transmitir saberes e significados, maneiras de estar e agir no mundo causa constrangimento (a meu ver) quando confrontado com a prática . Acredito na educação enquanto força motriz do fazer humano, como amálgama que perpassa todos os indivíduos, sendo capaz de despertar a sensação de pertencimento, integração e transformação social. Queria eu inventar um dispositivo capaz de transformar o ideal em real, a teoria na ação (ah se eu pudesse trazer o ser genérico dos quadrinhos para o agora). Mas o que ocorre é que enquanto escrevinho nebulosamente sobre o potencial educacional, o eu educa(dor) me foge aos olhos... neste exato momento humanos vêm ao mundo enquanto outros dele se despedem ao som de uma sociedade que distingue trabalho físico do trabalho intelectual, urbano e rural (e uma infinidade de outras tensões), reproduzindo a lógica de desigualdade da existência humana, em que o ter antecede o ser, em que se aprende para ignorar (de olhos fechados para ver melhor) ... Neste exato momento humanos vêm ao mundo enquanto outros dele se despedem ao som visual de quem aqui escrevinha tortuosamente (em busca da práxis), mas que no fim das contas retrocede ao caminhar...

    Michelle Nogueira de Resende

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