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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mídia: Um pretenso aliado que está em mãos erradas.

Também, uma tentativa de continuidade aos posts anteriores.

     De fato há um problema social intrínseco nesse episódio ocorrido na escola Tasso da Silveira no RJ. Alias, não só nesse, mas em demasiados outros noticiários de massa. Sabemos ainda, o problema não está na notícia divulgada, e sim na sua distorção. No incrível poder de manipulação desses meios midiáticos em nossas vidas. Sem contar no enorme poder que os meios de comunicação vêm acumulando, que atualmente essa mesma mídia acaba sendo o quarto poder do Estado, e mais do que isso, nesse poder a ascendência de um sistema básico de dominação ou de afunilamento do que seja “importante” para todos é antemão encoberto. Fico impressionado com essa sistematização da informação em nossas vidas. E, além disso, da singela teoria do caos que isso desemboca.
     Fiquei analisando, Montesquieu poderia ser nosso contemporâneo para incluir em sua fantástica obra “Espíritos das Leis” esse poder que se dá de maneira calculista, nos moldes do homem racionalizado “moderno”. Esse poder midiático entraria como articulador dos outros poderes estatais. Ademais, não sendo assim feito, dito, o poder da mídia bem como seu aparato ganham uma idéia de unidade ao se propagarem pelos televisores atentos dos cidadãos “modernos”. Acredito mais ainda, que seja até mesmo o ideal ter na propaganda, nas informações prestadas as massas esse ar de que estão acompanhando os fatos de maneira incisiva e perspicaz. Contudo, sem deixar de lado sua função estacionária para com o povo, e de efetiva corroboração de que ela seja um poder disfarçado.  No mais, acredito que as coisas estão se dando dessa forma a todo vapor, em pleno espetáculo (como colocara Danilo no Post precedente) Espetáculo tal como é abordado por Debord¹, esse que torna as pessoas em seres passíveis de um consumo imagético e informacional aos quais nessa mesma linha, a sociedade que adere essa concepção tange a uma pobreza e uma fragmentação da vida real.
      Pensei também, a ameaça maior que esses meios vão alastrando nas vidas das pessoas que ligam a T.V. e se deparam com a notícia: “Bullying pode ter motivado o massacre da escola do Rio de janeiro” (como colocado pela Kárita no Post anterior) pode causar tremendos distúrbios, aos quais os mesmos são derivações de algo mais amplo. Não quero negar toda a história que o individuo carrega consigo, fazendo disso um ser padronizado ou não. A grande sacada está justamente aí, será mesmo que um passado num tom individualizante ganha forças além do imaginado fora de seu contexto social?  Prefiro pensar num fato social total², que inclua também seus pormenores. Antes de se chegar a um veredicto psicológico e totalizante.
Acredito, com isso estou caminhado no mesmo esquema de raciocínio dos colegas. Tentar abordar um tema em suas variadas instâncias, não engessar problemas da vida social em teorias que quase se tornam jargões das pessoas que encontram nesse espetáculo a sua vida real. E mais, como é interessante pensarmos nessa questão do poder da mídia atualmente como uma reprodução da diferenças caracterizadas em nossas vidas. Tentar pensar aqui como Bourdieu pensou o sistema educacional. Só que agora ilustrada e fantasiada em nossas caixas mágicas, sem falar na forma descarada de nos impor essa violência que chega ultrapassar o meio simbólico. Um salve para arbitrariedade midiática, sobretudo a imagética. Viva a sociedade do espetáculo.
     Vou seguir e também finalizar como uma citação de Guy Debord. Primeiramente por abordar a questão da comunicação de massa, a outra, por estar em concomitância à idéia de Bourdieu em “A reprodução”. Segue aí:

O espetáculo, compreendido na sua totalidade, é simultaneamente o resultado e o projeto do modo de produção existente. Ele não é um complemento ao mundo real, um adereço decorativo. É o coração da irrealidade da sociedade real. Sob todas as suas formas particulares de informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto do entretenimento, o espetáculo constitui o modelo presente da vida socialmente dominante. Ele é a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e no seu corolário – o consumo. A forma e o conteúdo do espetáculo são a justificação total das condições e dos fins do sistema existente. O espetáculo é também a presença permanente desta justificação, enquanto ocupação principal do tempo vivido fora da produção moderna.

¹ Guy Debord, autor da obra “A sociedade do espetáculo”. Originalmente lançado em 1967, França.

² Categoria teórico-analítica empregada por Mauss em sua obra “Ensaio sobre a Dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas”. Usada aqui para tentar abarcar a real necessidade das informações prestadas a sociedade. No intuito de não se fechar aos fenômenos particularizantes, mas encontrar numa totalidade (Escola Durkheimiana) os sentidos de todas as ordens.

Rômulo Andruschi

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