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terça-feira, 14 de junho de 2011

Seminário UFGinclui x inclusão : primeiro ato

Em um tópico sobre universidades para quê? Universidades para quem? Vamos, falar sobre cotas, sobre UFGInclui, um programa adotado a dois anos que dispõe 20% de vagas dos cursos de graduação da UFG para pessoas negras/os de escolas públicas 10%, e 10% para pessoas de escola pública, no programa também estão inclusos, em percentagem menor, pessoas surdas, para letras/libras, indígenas e quilombolas.  Nos dias 12 e 13 de maio aconteceu um Seminário na UFG sobre como estão sendo os resultados pós adoção das cotas. 

Vimos participações muito interessantes como a de um estudante de graduação que levantou questões como; estão tirando as possibilidades de bolsa das pessoas que entraram pelo sistema universal, eles tem mais privilégios, eu me virei sozinho e tinha as mesmas condições que eles porque eles não podem se virar? -Vocês sabem as respostas?

No primeiro dia participamos da mesa redonda com Marcelo Henrique Romano Tragtenberg; que levantou em estatísticas, gráficos e tabelas, questões como; o Brasil não tem um sistema institucional oficial segregacionista, mas nossos dados sobre onde e como estão as pessoas negras são comparáveis aos países que tem; ampliação de vagas - como diria Gramisc e Bourdieu - não muda a cara branca socio-economica alta das pessoas que frequentam as universidades; em famílias interraciais irmãs/os negras tem uma escolaridade menor que as brancas/os.  Façamos uma política de cotas então.

O último senso do IBGE trouxe que Goiás tem 50% de população negra, onde estão essas pessoas? Com uma possibilidade de 10% para entrarem em cursos passaram a frequentar mais as faculdades da UFG, junto aos 10% de pessoas brancas de escolas públicas também. E sobre o estar nesse espaço, sabe qual foi a preocupação? Vão levar para baixo o nível de ensino? Vamos estudar como esses estudantes se inserem nas faculdades. As pesquisas realizadas nas faculdades dos cursos da UFG por comitês específicos mostraram que não há problemas em termos de notas e envolvimentos com atividades.

O incrível, ao falarmos de cotas é que no fim das contas, as pessoas se preocupam mais com o rendimento das pessoas que se inscrevem no sistema de cotas (vamos avaliar, né? De 0 a 10 !) do que com questões como a manutenção dessas e desses estudantes na instituição; será que há necessidade de recursos que viabilizem o estudo dessas pessoas, como transporte, alimentação... , se a faculdade dispõe de tais recursos (como é o caso da Bolsa Permanência e a Bolsa Alimentação), será que eles são suficientes e chegam a tod@s que precisam?  

Se quem vem da escola pública tem problemas com qualidade de ensino,  isso não significa dizer que tal fato se deve a falta de escolarização das pessoas. O ponto não é a capacidade cognitiva, mas sim o que está colocado na escola como cultura de valor, cultura e conhecimentos a serem ensinados oficialmente.

Comecemos então: o que cobram os vestibulares? “O vestibular simplesmente cobra aquilo que é ensinado na escola. Que escola? Respondam aí, quais são as escolas tidas como  “modelo educacional”? As escolas públicas? Com exceção dos institutos federais, as escolas públicas (municipais e estaduais) certamente que não se enquadram num modelo ideal de educação. Se as escolas públicas estão a margem, o que sobra (ou quais escolas sobram)? Ahhh! As escolas privadas, criadas e configuradas nos moldes de uma educação elitista, que ao longo dos anos nos submete aos símbolos e códigos de um mundo desconhecido; um mundo estranho do qual não fazemos parte, mas que ainda assim nos é cobrado como dívida. 

Resgatando Bourdieu, fazemos parte de um sistema educacional que, nos viola a todo tempo, e que se faz presente/eficaz  justamente por ser invisível aos olhos, aos sentidos. A escola não é neutra, imparcial, capaz de avaliar os sujeitos de forma “objetiva” (se é que isso existe). Ao contrário, a escola legitima e reproduz as desigualdades sociais favorecendo os que já se encontram em condições favoráveis e desfavorecendo aqueles que já estavam em “desvantagem” (e assim cristalizamos as diferenças). O currículo defendido pela escola, foi construído com base nas experiências e valores de uma sociedade específica. 
E essa mesma ladainha se repete no vestibular, que reproduz no processo seletivo, as mesmas formas de exclusão disseminadas na escola, mas que no entanto, não percebemos enquanto violência, atribuindo as faltas ao discurso do mérito e blá-blá-blá. Tá, depois de todo esse palavrório, voltemos a pensar nas dúvidas sobre acesso a universidade por cotas: estão tirando minhas possibilidades de bolsa, eles tem mais privilégios, eu me virei sozinho e tinha as mesmas condições que eles porque eles não podem se virar?

 

E aí me respondam, quem está tirando oportunidade de quê/quem? Isso existe? Por direitos jurídicos, legais, civis e de existência, não deveríamos nós, pessoas, de todas as cores, partes e formas, termos direito ao acesso assim como qualquer outr@? Universidades não são um direito? Não, não são.

Agora que constataram que essas pessoas não são um problema, não tem um problema, podemos pensar nos problemas da instituição? Parece existir ao mínimo, uma premissa de que escolas públicas não funcionam como deveriam funcionar, e se os estudantes que entraram aqui por um ponto de corte mais baixo do que aquele que deveriam entrar os problemas devem ser resolvidos localmente, ou seja, aqui na universidade. 


Quem forma o corpo docente que está nas escolas? A universidade. Se temos problemas como; as pessoas nem sabem que existe uma universidade pública; que podem se inscrever pelo programa UFGInclui. Se temos problemas com um gerenciamento do conhecimento - o cobrado no vestibular mesmo -, temos problemas nas faculdades que formam as pessoas para ministrarem aulas, temos problemas na formação desses sujeitos. O problema geral ao fim, nem é em termos de conhecimento, mas em termos de acesso. O problema que se tenta resolver, e se imagina externo, é interno e invisibilizado.

Vimos em toda essa discussão, um problema que enfrentamos pensando nossas práticas como futuras/os docentes; universidades são um direito para todas as pessoas que se interessarem por um curso? Universidades para quê? Universidades para quem? Universidades contra quem?

As universidades foram feitas para atender que população? Nós, mulheres de periferia, eu mulher negra da periferia, eu mulher branca da periferia, que estudamos em escolas de periferia, nunca tínhamos ouvido falar em universidade, faculdade, UFG e quando chegamos aqui, vimos que tínhamos que fazer e saber funções que não foram ensinadas / incentivadas nas nossas escolas, nas nossas vidas. Vimos que a universidade não foi feita para nós, e que poucas pessoas sabiam lidar com o fato de que nós não tínhamos problemas de cognição, mas problemas de acesso; em verdade nós não tínhamos problema nenhum; a universidade é que é feita por pessoas e de experiências que  não eram as nossas. 


Se o problemas das pessoas que entram por cotas não é a nota, podemos ver o que essas pessoas tem em termos de conhecimentos para adicionar esses conhecimentos as universidades? Podemos considerar os conhecimentos dessas pessoas, grupos, em termos de valor e não em termos de perda na qualidade? Agora que a universidade não é feita só de pessoas brancas com contas bancárias específicas, podemos pensar nas experiências das pessoas diversas; indígenas, surdas/os, negras/os de escolas públicas e brancas/os de escolas públicas, ou seja pessoas pobres, pessoas com corpos tratados de forma subalterna? 


Elismênnia e Michelle



2 comentários:

  1. Deve ter sido muito interessante o debate que ocorreu sobre o tema postado. Penso que ainda há um longo caminho a ser percorrido sobre este assunto na sociedade brasileira. Sei que mais do que nunca vivemos uma época onde o individualismo impera em todas as camadas sociais, todas as áreas da vida de cada individuo, enfim faz parte da filosofia de vida da sociedade moderna. Porém olhando mais especificamente para a nossa sociedade brasileira, e voltando no tempo, revendo nossa história, o que para mim fica nítido é que desde a nossa formação sempre tivemos uma visão muito individualista, cada um querendo “salvar o seu”. Só damos valor a leis ou políticas afirmativas se elas trouxerem algum benefício para o meu “eu” não importa se o outro esta sendo beneficiado, o que importa “sou eu”. Reflexo disso são os políticos eleitos por nós. Mesmo assim ainda acredito que o brasileiro tem mudado sua visão, acredito que as novas gerações farão diferença, afinal a diversidade, as diferenças tem sido o centro não só de debates, mas também da nossa realidade diária. Dentro das universidades ainda há muito preconceito com relação a inclusão, mas ela está ai e é uma realidade, caminhando lentamente, mas sobrevivendo.
    SANDRA RANCAN

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  2. Oi Meninas! Bom sobre esse tema de inclusão, me referirei a questão do negro e o sistema de cotas raciais.
    Pois vejo como qualquer coisa nova que surge; digamos precisam fazer alguns, teste e ajuste ate funcionar e ter um selo q concederíamos aqui de (garantia) rs. Mas esses ajustes são feitos no campo ideológico. E isso não e nada hegemônico nesse campo q abrangeria a visão de mundo das pessoas e também algo que esta enraizado a estrutura de dominação e poder vigente. Sendo negro, eu observo q ainda tendo uma diversidade étnica dentro do campus ela e insignificante comparado a diversidade da nossa população. E vendo q a elite dominante e branca, o ensino superior de qualidade público, que seria para todos principalmente os q não teriam acesso a custear um ensino superior um modo de inclusão e (remediar) de forma lenta a desigualdade, e essa elite em terras tupiniquins europalizada parecem, querer manter o mesmo poder da época da senzala, ao se empolarem todos quando e tratado desse tema Cotas Raciais, com argumentos de que eles irão ser mais racistas e não aceitaram ser atendidos por profissionais formado com beneficio da cota. Alegando também como as meninas já citaram, baixaria nível acadêmico, no entanto em alguns casos vejo muitos dizendo e ilegítimo as cotas raciais, mas e completamente compreensível as cotas para alunos de escola publica. Bom, no entanto as cotas raciais são para sanar uma divida histórica q ao meu ver esta muito mal paga, e sim deve ser tratado de maneira desigual as cotas pois são de maneira desigual que a população negra vem sendo tratada não em 350 anos de escravidão mais em mais de 500 anos de formação de se que se pode dizer de uma nação; e não venho q esse papo de todos somos iguais e temos a mesma capacidade, pois as oportunidades são diferentes. O sistema de cotas e a primeira política afirmativa a população negra, enquanto meus antepassados saiam das senzalas a partir de 13 de maio e iam para as favelas os imigrantes europeus muitos fugido de guerra ocupavam a mão de obra negra, e os imigrantes europeus foram inseridos a população recebendo terras coisas que não aconteceram com os negros e que a muito custo hoje se esta reconhecendo os remanescentes quilombolas, e não vejo nenhum descendente de alemães, italianos e japoneses nas favela e sim o negros. Sendo de maneira paupérrima o sistema de cotas algo a remediar essa divida, a elite branca nega que há algo salda e mais uma vez a educação se torna o campo de disputa política e dominação.

    Danilo Cardoso

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