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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Escolas da Grande Goiania : Comentário sobre a reportagem sobre IDEB do Jornal Nacional 19/05

Olá Maria Aparecida,
Recebi por colegas da educação esta carta que dá um enfoque diferenciado a questão e penso eu depois de lermos podemos ter perspectivas diferentes da apresentada anteriormente ou pelo menos fazer ponderações. Segue o conteúdo:

Esta carta foi enviada por e-mail a redação do JN, da qual estamos esperando por uma resposta ou explicação da referida reportagem.

   
    Bom dia!
   
    Sobre a reportagem do JN no Ar, exibida ontem, dia 19/05, que mostrou o perfil de duas escolas, da rede municipal, visitadas na grande Goiânia, quero neste contato, declarar a minha inquietude e indignação. Sou professor há pouco mais de um mês na Escola Municipal Maria Araújo de Freitas, na modalidade de educação para adolescentes, jovens e adultos no turno noturno. Ao assistir a matéria com meus colegas do turno noturno ficamos chocados, pois foi polêmica, tendenciosa e irresponsável.
    Polêmica porque não ficou claro para os telespectadores o que é IDEB, como a análise é feita, porque o IDEB foi o mais baixo do Centro-Oeste, quais as projeções das unidades escolares feitas pelo MEC em cada modalidade; não teve análise do perfil do público, não foi mostrado que o IDEB é um indicador estatístico e que nasceu como condutor de política pública pela melhoria da qualidade da educação e que sua composição possibilita não apenas o diagnóstico atualizado da situação educacional, mas também a projeção de metas individuais intermediárias rumo ao incremento da qualidade do ensino. O IDEB não existe para taxar a escola como melhor ou pior.
    Tendenciosa porque fizeram questão justificar os termos “a melhor” e “a pior” exibindo em letras garrafais os salários pagos aos professores das duas escolas com diferença de R$500,00 exibindo a professora Gisele como muito bem paga com salário de R$1.600,00, numa escola visivelmente bem estruturada e outra professora numa escola “simples”, com salário de R$1.100,00; comparou a gestão e o corpo docente das duas escolas, colocando uma de comprometida e a outra então seria o que? Irresponsável? Foi tendenciosa sim porque o Brasil soube que uma das gestoras já administra a escola há 8 anos, mas não perguntaram há quantos anos a professora Suzy é gestora; colocou que uma escola é de bairro pobre e a outra? É de bairro nobre? Quem disse isso? Não perguntaram como era a escola de pior IDEB em 2009, ano em que a avaliação externa foi aplicada. Se tínhamos alunos traficantes ou usuários de drogas, indisciplina estabelecida, falta de recursos, uma metodologia fracassada em toda a rede, professores mal pagos, prédio e equipamentos surrupiados.
    Foi tendenciosa sim, William Boner, pois o salário pago é o mesmo, só que esqueceram de perguntar porque a professora que ganha o miserável salário de R$1.600,00 fez e faz para consegui-lo: como ser aprovada em concurso público, estar na rede a mais de 20 anos, ter feito pós-graduação, cursos de formação continuada e o pior dobrar a carga-horária que chega a 60 horas semanais; e não existe diferença salarial na rede municipal de Goiânia, existe diferenças de conquistas, inclusive se o professor é concursado ou contratado temporariamente.
    Foi tendenciosa, pois vocês justificaram o melhor e o pior IDEB comparando a parte física da escola e que uma melhor que a outra por problemas de gestão, o que foi mostrado como uma estrutura boa é resultado de conquistas da gestora (que está na função porque foi eleita por voto secreto e direto, num processo eleitoral transparente e democrático), na manutenção realizada pelas funcionárias da limpeza, por mutirões feitos pela comunidade e outras lutas.
    O tema do JN no Ar é a base da vida – a educação – mas a reportagem foi irresponsável e inconsequente, pois foi feita com base em resultados de 2009 e esqueceram que existe uma comunidade dentro e em torno da escola, são alunos, pais, professores, vizinhos – comunidade esta que está sofrendo as conseqüências, sendo taxada de “burra”, de “escola fraca” e outros termos pejorativos mais. O IDEB apresentado é da prova de 2009 e o ano em curso é 2011, então, considero sim, a reportagem irresponsável, porque uma gestora que está no comando da escola em menos de 2 anos não pode ser taxada de descomprometida em detrimento de outra que dirige a escola há 8 anos; Irresponsável porque temos alunos matriculados nos três turnos e estes já estão sofrendo com bullying, sendo chamados de burros, que estudam numa escola ruim, que a escola vai fechar, e acredito que não, pois na aula após a reportagem ouvi os alunos dizerem com tristeza que não vão pedir transferência, pois consideram a escola um refúgio, são tratados com muito carinho e respeito, alimentam bem, os professores demonstram responsabilidade, compromisso e acreditam na capacidade de cada um.
    Irresponsável porque passaram a bola e a responsabilidade da qualidade de ensino apenas para o professor e ainda exibiu salários de R$1.100,00 e R$1.600,00 como se os professores fossem muito bem pagos em um país em que um deputado federal analfabeto e palhaço recebe pelo menos R$ 98 728,08. Além dos vencimentos, tem R$ 50 815,62 para pagar os assessores, mais R$ 4 268,55 para despesas postais e telefônicas e verba de transporte aéreo que oscila entre R$ 4 253,91 e R$ 16 938,44.
    Isso sem contar as despesas médicas, todas reembolsadas, o direito a publicações, o material de escritório, apartamento funcional, carro de luxo com motorista, segurança e as despesas comuns de manutenção da Câmara.
    Gostaria de saber em que a reportagem contribui para a melhoria da qualidade de ensino, em que colaborou para elevar a autoestima de toda uma equipe de uma escola que luta para melhorar o fazer pedagógico.
    Repudio a reportagem por não respeitar o processo democrático nas escolas e de desconsiderar os anseios da comunidade escolar.
                        Este é o meu parecer.
 assina o professor  
                                                               Arivaldo Alves Vila Real

Postado por DILMA MARIA

3 comentários:

  1. Infelizmente, todos nós sabemos que a informação é dada pelos meios comunicacionais de forma moldadada e manipulada e que isto é feito de forma a beneficiar certos orgãos ou instituições, Mauro Wolf em Teorias da Cumunicação trabalha muito bem esta questão. É uma realidade que deve ser mudada, pois como mesmo diz o Arivaldo Alves Vila Real em sua carta, a forma em que a reportagem foi exibida acabou por desvalorizar a instituição escolar e isto reflete em toda a comunidade que depende, que está relacionada aquela isntituição. Como ele mesmo diz, em que houve contribuição?, pois em principio é esta que deveria ser a função da informação, beneficiar.
    Muitas vezes me revolto com estes tipos de questões, indagamos, discutimos, fazemos artigos, escrevemos cartas, relatórios, ensaios, publicamos livros tentando de várias formas demonstrar nossa insatisfação com estas questões, porém ainda assim não conseguimos mudar consideravelmente a situação. Em uma sociedade onde o capital “fala mais alto” e o poder concentra-se nas mãos de uma minoria que preocupa-se somente com suas próprias questões esta realidade torna-se difícil de ser mudada, porém não impossível, se continuarmos fazendo nossa parte, continuarmos tentando, buscando alertar e indagar estas questões, fator que também faz parte do trabalho de um professor.

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  2. As reportagens do JN sobre educação parecia ser interessante, mas só parecia pois a última que assisti sobre duas escolas de Goiânia foi... TERRÍVEL. Pensei em como estariam sentindo os alunos, professores e a própria diretora da escola, que por terem o menor IDEB foi avaliada pelos "especialistas" que participaram da reportagem como uma escola ruim.
    Mas, quem já vivenciou a realidade de uma escola por alguns dias que seja, e não precisa ser "especialista", terá percebido que existem mais coisas a serem avaliadas e percebidas do que simplismente os números e a parte física da escola, afinal estamos falando de pessoas, seres humanos.
    A carta do professor Arivaldo apresentando sua indignação quanto a reportagem do JN é justa e deveria ser respondida pelos responsáveis pela tal reportagem, os "especialistas".

    Sandra Regina Alves

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